Uma melancolia ou tristeza após o parto pode acometer cerca de 80% das gestações, geralmente em um prazo de 40 dias após o parto, período conhecido como puerpério. A depressão pós-parto, no entanto, é mais grave e pode ser incapacitante, podendo colocar em risco a vida do bebê e da puérpera.
Após um parto muito esperado, a mãe volta com o bebezinho para casa, onde tudo foi preparado para recebê-lo, mas ocorre uma espécie de melancolia inexplicável. Se esse sentimento for passageiro e desaparecer dentro de alguns dias, não há motivo para preocupação, já que seu organismo passou por verdadeiras revoluções hormonais nos últimos tempos que podem ter mexido com o sistema nervoso central, e sentir-se assim é muito comum.
No caso da depressão pós-parto, no entanto, a tristeza vai ficando cada vez mais intensa, a ponto de tornar a mãe incapaz de exercer as mais simples tarefas do dia a dia, e ela passa a demonstrar apatia e desinteresse por tudo que a cerca. Num passado não muito distante, esses sintomas não eram valorizados, ninguém falava em depressão pós-parto, e os transtornos de humor eram considerados traços da personalidade feminina. Sem diagnóstico nem tratamento adequados, ou a doença se resolvia espontaneamente ou tornava-se crônica.
Uma das explicações de porque isso acontece diz respeito à oscilação hormonal: o organismo da mulher estava submetido a altas doses de hormônios e tanto o estrógeno quanto a progesterona agem no sistema nervoso central, mexendo com os neurotransmissores que estabelecem a ligação entre os neurônios. De repente, em algumas horas depois do parto, o nível desses hormônios cai vertiginosamente, o que pode ser um fator importante para o desencadeamento dos transtornos pós-parto. Esse, porém, não é o único fator, pois todos os sintomas associados ao humor e às emoções são multideterminados, ou seja, não têm uma causa única. Portanto, não é só a deficiência hormonal que está envolvida na tristeza pós-parto e no quadro mais grave, a depressão pós-parto.
Outros sintomas podem ocorrer, como sonolência, falta de energia o dia todo e de libido, além de alterações de apetite. Algumas ficam famintas e comem muito, outras nem podem chegar perto dos alimentos. A ansiedade faz parte também do quadro de depressão pós-parto, a mulher pode ter ataques de pânico sem ser portadora desse transtorno ou pode desenvolver comportamentos obsessivos em relação ao bebê, como agasalhá-lo demais ou verificar a todo instante se ele está respirando.
O tratamento deve ser precoce, pois o quanto antes iniciado, mais rápida será a melhora. Basicamente, devemos contar com tratamento multidisciplinar, com acompanhamento de psiquiatra e psicoterapeuta, orientação para atividade física e suporte da família ou de uma rede de apoio à mulher. O fundamental, ao identificar os primeiros sintomas, é buscar ajuda profissional para orientação e tratamento.